Bootcamp Nova SBE: Organizações procuram soluções de financiamento

Na 3ª edição do Social Ideation Bootcamp, a problemática da angariação de fundos marcou os desafios que as organizações participantes colocaram aos jovens estudantes. À semelhança das edições anteriores, cinco organizações reuniram online com um grupo de estudantes do programa Fellowship For Excellence, durante 3 dias de trabalho, na busca de soluções para problemas concretos com que as instituições se deparam.

Efeitos da pandemia: a diminuição de fundos

À exceção da Cruz Vermelha Portuguesa (Delegação da Costa do Estoril), que procura uma estratégia de ampliação da Academia Digital dirigida a séniores, as restantes quatro organizações apresentaram desafios em torno da diversificação de fundos para financiar algumas das suas atividades mais importantes.

As organizações do setor social têm como principais fontes de financiamento os acordos de cooperação, em que os fundos provêm do estado central e/ou local . Há também uma componente das suas atividades que são financiadas através de donativos, quer de particulares , quer de empresas. Foi nesta área que o cenário de pandemia desde 2020 mais pesou nas quebras financeiras. As doações reduziram-se de forma substancial , levando a que as organizações se vejam obrigadas a criarem estratégias proativas para garantirem fluxos mais estáveis de fundos oriundos de donativos, sobretudo, das empresas.

Esta preocupação refletiu-se nos desafios que a Casa dos Rapazes, Fundação Champagnat, Centro Paroquial do Estoril e ABLA trouxeram para serem alvo do Bootcamp da Nova SBE. Quase três dezenas de estudantes, organizados por equipas, conviveram de perto com os técnicos das organizações.

As soluções: faltam recursos para as por em prática

Filipa Agrely, técnica da Casa dos Rapazes, identifica como principal obstáculo ter os recursos humanos disponíveis para se dedicarem a implementar a solução: “há falta de dinheiro mas há falta de recursos para se dedicarem 100% a estes projetos”.

O cenário de pandemia e as restrições impostas pelo confinamento contribuem para o adiamento de algumas soluções que se apoiam em eventos públicos como a organização de corridas e jantares solidários. Para Clareana Araújo , técnica da Fundação Champagnat , apesar desta limitações, considerou que “a solução foi bem satisfatória. Algumas questões ainda não conseguimos por em prática pelo contexto da pandemia, e a ideia era que eles nos fornecessem respostas mais a longo prazo; vamos ter algo a que recorrer quando tudo voltar a uma normalidade que esperamos que seja breve”.

O acompanhamento para além do Bootcamp

Para minimizar este tipo de obstáculos os estudantes e mentores fizeram propostas de soluções faseadas para que as organizações possam ir ajustando os recursos necessários para as por em prática. Inês Ferreira, técnica da Cruz Vermelha Portuguesa (Delegação da Costa do Estoril) afirma que este faseamento é fundamental porque dá uma visão clara de quais as condições que se têm que alcançar para que o projeto possa avançar. No caso da CVP, que pretendia uma solução rápida, esta sistematização por prioridades permite implementar a solução encontrada no Bootcamp logo de imediato.

A equipa da Nova SBE sugere que deve haver um acompanhamento complementar ao Bootcamp. A criação de ligações a financiadores requer quase sempre a definição de uma nova estratégia de comunicação, a identificação organizada de potenciais doadores ou o estabelecimento de um conjunto de incentivos para que empresas e particulares de sintam mobilizados para apoiar as instituições. Apesar da natureza estratégica destas ações , as organizações só conseguem executá-las recorrendo a apoios que não estão disponíveis por agora nas suas estruturas.

A resposta para este constrangimento importante pode estar no acolhimento de estágios e/ou apoio de voluntários. Só assim será possível criar ferramentas de suporte à implementação das soluções propostas.

Balanço positivo para os participantes

As técnicas das organizações estão de acordo quanto aos benefícios que todos participantes retiram desta experiência. Inês Ferreira reconhece que esta iniciativa aproxima as organizações, “acaba por haver uma simbiose, há uma perceção de que estamos todos no mesmo caminho e que queremos fazer o melhor pela organização e pela comunidade”. Por outro lado, os estudantes contatam com problemas reais e as organizações ficam com “uma visão externa do problema, fresca porque eles são muito mais novos e estão com a teoria ainda muito fresca na cabeça, e que de fora, têm ideias que nós não chegamos lá” refere Filipa Agrely. Já Clareana Araújo destaca a estrutura do Bootcamp: “Os encontros eram de meia-hora. Não foi algo que custou muito na minha gestão de tempo de trabalho. Para nós organizações sem fins lucrativos é sempre vantajoso participar assim num evento sem custos”. Contudo, alerta que o facto da comunicação se fazer em inglês pode ser um obstáculo à participação das organizações. Haver um apoio de tradução pode tornar a participação mais aliciante pois a comunicação não será um entrave ao trabalho em equipas compostas por estudantes das mais variadas proveniências.

Recomendam que outras organizações participem em edições futuras e que o contacto entre as equipas de técnicos e estudantes possa manter-se para além do Bootcamp. Os alunos e alunas são maioritariamente estrangeiros e desconhecem a realidade do terceiro setor em Portugal . O feedback dos estudantes coincide nesta necessidade: referem que teria um impacto positivo nas soluções para os desafios se pudessem ficar mais contextualizados com a realidade e com o quotidiano das organizações.

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11 de Março de 2021
helenabonzinho