COVID-19: Na linha da frente com a Casa do Alecrim

“O que é muito revigorante especialmente para mim que dirijo estas pessoas todas. Também estive num momento de grande medo , como é que a equipa se iria comportar nisto tudo. Mas como temos um percurso longo desde 2013, de estratégias variadíssimas para mantermos a equipa sempre focada no serviço que prestamos, unida , a olhar para o problema como um desafio, em que todos participam na solução. Digamos que temos vindo a trabalhar estes conceitos que agora nos servem que nem uma luva para testar a nossa capacidade de reagir a tudo isto.”

A Casa do Alecrim foi das primeiras instituições em Portugal a ter um equipamento pensado de raiz para as pessoas com demências. Desde de 2013 , as valências de Centro de Dia, Lar e Serviço de Apoio Domiciliário dão resposta a pessoas afetadas por essas doenças e suas famílias.

A pandemia obrigou ao encerramento do Centro de Dia e à transferência dos clientes para Serviço de Apoio Domicilário “nós já tínhamos 50 pessoas, numa primeira fase começamos por reduzir para o essencial, para os cuidados de higiene e alimentação. Tínhamos também as terapias de apoio e alivio do cuidador e algumas até praticados na Casa do Alecrim. Tivemos que as interromper. Houve famílias que elas próprias quiseram interromper e respeitamos isso” refere Fernanda Carrapatoso, Diretora Técnica da Casa do Alecrim. O Lar manteve-se em funcionamento mas teve que se alterar a organização das equipas para se coadunar com as novas regras de proteção e segurança, para impedir a contaminação de colaboradores e residentes. Estabeleceram-se equipas de trabalho por grupo de residentes que não contactavam entre si, acentuando o confinamento dentro da própria instituição para diminuir a probalidade de propagar a infeção.

Como se minimizou o confinamento

Enquanto no Lar foi possível ir mantendo as rotinas terapêuticas, o maior desafio foi como manter o contacto com as famílias, impedidas de visitar os seus entes queridos dentro da instituição. “No caso do Lar estivemos muito confinados. As famílias têm recebido vídeos, fotografias. Temos mantido estas energias para poderem acompanhar, temos permitido visitas à janela. Temos permitido que as famílias visionem, contactem  mais ou menos presencialmente  através de um vidro com os seus familiares”

Aos clientes em apoio domiciliário, a Casa do Alecrim recorreu às teleterapias “Conseguimos oferecer uma atividade de manhã e outra à tarde, distribuindo pela musicoterapeuta e pela terapeuta ocupacional” explica Fernanda Carrapatoso. Apesar do contacto físico estar ausente e ser fundamental para uma pessoa com demência, os resultados surpreenderam a diretora da instituição “Os técnicos ficaram apreensivos mas eles ficaram espantados com a boa receção dos clientes a estas tecnologias ” Apesar do doente necessitar do apoio do familiar para iniciar o contacto com recurso a meios digitais, este momento revelou-se também importante para as famílias , que em casa dispunham de um espaço de tempo para realizar outros afazeres, funcionando como um momento de apoio ao próprio cuidador.

Uma cadeia de tranquilidade para lidar com a pandemia

Segundo Fernanda Carrapatoso , é possivel encontrar factores positivos no reverso desta pandemia. Quando já se equacionam as medidas de desconfinamento e a adoção de estratégias para retomar alguma normalidade, o balanço positivo que faz para que tudo tenha corrido bem até agora explica-se pelo o ambiente criado de tranquilidade: “começou pelo Presidente da República, veio por ai a baixo, até ao Presidente da Câmara de Cascais. Este comportamento generalizado das grandes figuras, provocou uma cadeia de posturas corretas até à responsável da Casa do Alecrim que também tem que dar o exemplo.” Isto transmitiu-se às famílias que lidaram sempre com calma , tolerância e serenidade perante as mudanças que a pandemia foi introduzindo nas suas vidas e na do seu familiar apoiado pela instituição.

Salienta ainda a importância do apoio da Câmara Municipal de Cascais por ter distribuido equipamento de proteção individual, nomeadamente, as máscaras pelas organizações. “Eu vivo e trabalho em Cascais, e fiquei muito grata por esta postura cheia de energia e de antecipação e também de cuidado Criou-nos uma base de grande conforto porque os recursos são essenciais “

14 de Maio de 2020
helenabonzinho