Sempre trabalhei na área da hotelaria e a vida foi-me correndo sempre bem, sempre tive as minhas coisas sem problemas e sempre ganhei bem. Saí de Portugal com 16 anos, passei por Itália e por Inglaterra e em 2017 voltei a Portugal para acompanhar o meu pai já de idade. Aqui em Cascais continuei a trabalhar como gerente em alguns bares até que aconteceu esta coisa do Covid. O meu patrão, que pensei que era amigo, desapareceu e deixou-me, a mim e a todos os empregados, sem remuneração nenhuma. Eu era o gerente e os empregados vinham ter comigo. Quis ajudá-los, cheguei a partilhar a minha casa e alimentos que tinha no frigorífico, mas as coisas foram-se gastando e passei dificuldades. Depois de algum tempo o patrão apareceu, pagou-me uma parte do salário, com menos mil Euros devido à pandemia e fiquei um tempo em layoff com uma renda de 550 EUR. Fiquei sem o meu carro.
Tentei trabalhar e apareceu outra oportunidade de montar um café para um português emigrado no Canadá, que me pediu ajuda e fizemos uma sociedade. Foi uma coisa de amigos, não ficou nada no papel. Ele dava o dinheiro e eu a experiência, mas cheguei a investir também o pouco dinheiro que tinha de reserva. O café, que abri a 18 e fechei a 28 de dezembro, nunca me deu lucro e as coisas foram-se acumulando. Foi muita coisa, nunca pensei vir a passar fome nem não conseguir ajudar os meus animais. Fiquei também sem o meu relacionamento de 4 anos e cheguei a pensar no pior.
Até que um dia resolvi passar na Junta de Freguesia para buscar máscaras e foi então que vi um papel que dizia… já não me lembro… qualquer coisa sobre ajuda. Disse ao senhor que me deu as máscaras que estava com dificuldades com os animais. Expliquei-lhe que ou pagava a renda e as contas ou comia e então este senhor, muito gentil, pediu-me para eu ligar para um número. Liguei e, graças a Deus, apareceu ajuda. O primeiro apoio que tive foi para a renda e a seguir deram-me os cartões que podia usar duas vezes. Quando me preparava para usar o cartão a segunda vez, ligaram-me a confirmar que tinha um novo emprego. É o ordenado mínimo, mas pensei logo que devia haver pessoas com mais necessidades e quis devolver o cartão, mas explicaram-me que o podia usar até ao fim.
Não sabia que havia este tipo de ajudas, isto era uma coisa que estava fora do meu mundo. Sempre trabalhei, nunca dependi de ninguém, sempre fiz tudo sozinho e nunca pensei vir a ter apoio. Foi uma ajuda incrível pois a gente estava confinada, com dificuldades sem saber se tinha trabalho, se ia trabalhar, se podia pagar a nossa renda. Mas saber que podia ter a ajuda deste cartão, ir a um supermercado e ter a comidinha em casa, um arroz, uma massa, uma carne, um atum, sei lá, isso foi uma coisa boa, uma bolha de ar importante. Foi uma coisa incrível que me aconteceu.