As organizações que acolhem crianças, jovens e idosos preparam um Natal em que os laços entre cuidadores e residentes, que se estreitaram ainda mais durante a pandemia, compensam a ausência de familiares nas tradicionais Festas que costumavam ser o ponto alto da quadra.
Num ano marcado por restrições, afastamento físico e até social, as organizações desdobram esforços para que, apesar destas limitações, os seus residentes sintam que o Natal chegou e com ele, o carinho, a partilha e a solidariedade.
Os colaboradores substituem a ausência forçada dos familiares
Ilda Balsemão, diretora técnica da Associação de Idosos e Deficientes do Penedo, explica que a Residência prepara uma noite de Natal na qual “se vai tentar trazer a família virtualmente para dentro do lar”. Usando uma plataforma de videoconferências, projeta-se a imagem das famílias que trocam mensagens com o seu idoso, enquanto estes abrem os presentes que a família enviou. “Não vai haver toque, não vai haver calor, o cheiro da lareira, mas há qualquer coisa”.
Os idosos mais autónomos, antes da pandemia, podiam ir passar esta quadra com familiares. Não havendo agora essa possibilidade e com as visitas a serem realizadas através de um acrílico, reforçou-se a proximidade entre colaboradores e pessoal técnico e os residentes, que têm agora uma atenção ainda mais individualizada, para além do “mimo” que também não perderam.
Cátia Augusto, responsável da valência de lar da instituição, refere que vai marcar presença na ceia de Natal pois sente esta responsabilidade “por tudo aquilo que temos passado”. Ao representarem os laços familiares perante o idoso, também tentam minimizar a angústia dos familiares em cujas casas, este ano, “há aquele lugar à mesa que não vai ser ocupado” sublinha Ilda Balsemão.
A proximidade, mesmo à distância, faz a diferença
Na Casa da Encosta, instituição de acolhimento de crianças, está também já tudo preparado para celebrar um Natal diferente dos outros. As 12 crianças, com idades entre os 18 meses e os 12 anos, vão estar apenas com os seus cuidadores. Fátima Serrano, diretora técnica, garante que tudo está a ser feito “para que nada lhes vá faltar”. Com a ajuda dos muitos amigos que a instituição tem, vai ser possível “ter os presentes à volta da árvore” que vão surpreender as crianças na manhã de Natal.
Em anos anteriores, era usual a família de origem e professores estarem presentes num grande almoço de confraternização e haver idas ao circo ou ao carrocel, uma magia que não se pode perder . Este ano apela ao envolvimento da comunidade: “quando há um amigo que lhes traz um miminho, é a esperança de que vale a pena estarmos confinados, porque depois havemos de conseguir agradecer ao vivo”.
Fátima Serrano reforça que instituições como a sua “precisam de todo o conforto e vivem da partilha e da solidariedade de todos” e por esse motivo, a Casa da Encosta está a promover uma campanha de Natal traduzida em dádivas que, mesmo à distância, ajudam “a preencher o vazio” sentido por estas crianças, por não estarem a viver a quadra com as famílias.
A resiliência como modo de vida
A passagem do Natal nestas circunstâncias adversas ao convívio e à proximidade, leva as organizações a exercícios de superação. Para Mafalda Morgado, diretora técnica da Fundação “O Século”, todo este percurso marcado por dificuldades veio demonstrar que “somos muito mais resilientes do que aquilo que julgávamos”.
Joana Louro, técnica da mesma instituição, realça que as crianças e os jovens residentes nas Casas de Acolhimento estão num esforço contínuo de adaptação a novas realidades: não vivem com as suas famílias de origem, agora vivem numa instituição na qual passaram toda a fase de confinamento, sem saírem para as aulas ou para ver os amigos mas, apesar de tudo, “conseguiram fazer a vida deles e ter esperança”.
Casa da Encosta Fundação “O Século” Fundação “O Século”
Aqui, pela primeira vez, a maioria das crianças e jovens residentes vai passar a consoada com as suas famílias de origem. Mafalda Morgado salienta que esta possibilidade é um passo muito importante no trabalho que é desenvolvido no restabelecimento de relações com a família. “A ideia é que todos possam estar em família na noite de Natal e regressem depois no dia 25”.
Nesse dia cada criança e jovem fica na respetiva Casa e complementa o almoço de Natal que vem do refeitório, confecionando as entradas, doces e os bolos tradicionais com os seus educadores. Também a Fundação “O Século” apostou num crowdfunding para proporcionar um Natal especial, pois este ano a pandemia afetou as receitas da instituição que eram geradas pelo seu negócio social, dedicado ao turismo.