No passado dia 13 de julho foi assinada no Palácio da Presidência da vila a Declaração de Cascais “Por um Plano de Ação Europeu para a Economia Social”, no âmbito da recente distinção do concelho como Capital Europeia da Economia Social.
A cerimónia decorreu no contexto da reunião do Comité de Monitorização da Declaração do Luxemburgo, que reuniu os representantes dos vários Estados-Membros da União Europeia e foi acompanhada, nos dias 13 e 14, pela realização das Conferências sobre Economia Social que promoveram um amplo debate acerca do futuro do papel da economia social a nível europeu, nacional e local.
Ambos os eventos estiveram integrados na programação comemorativa da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia e distinguem Cascais pelo seu setor social robusto com um forte impacto na economia local.
Este posicionamento de Cascais foi expressamente reconhecido na sessão de abertura das Conferências por Eduardo Graça, Presidente da Direção da CASES que, referindo um conjunto de dados relativos ao panorama da economia social no país, salientou que “Cascais está no top 10 de cidades com um maior número de entidades” neste setor.
Presente também nesta sessão de abertura o Comissário Europeu, Nicolas Schmit, salientou o papel crucial das organizações da economia social para a mitigação do impacto negativo da pandemia e recuperação da atual crise, afirmando que a União Europeia quer promover o setor como “motor de um futuro inclusivo e sustentável”. Para que assim seja, este responsável anunciou que a UE “irá simplificar os processos de acesso aos financiamentos, tornando-os mais fáceis”.
Destaque ainda para a intervenção de Filipe Almeida, Presidente da Portugal Inovação Social, que sublinhou os seis desafios que no seu entender se colocam hoje às entidades da economia social: “Profissionalizar a gestão, digitalizar, colaborar através do desenvolvimento de parcerias estratégicas, avaliar o impacto, comunicar melhor e com maior eficácia, pois comunicar é um instrumento de mudança e inovar nos métodos e nas respostas”.
Seguiu-se depois, durante a tarde deste primeiro dia das Conferências, um debate dedicado à “Transição Verde e Digital na Economia Social”.
Num painel dedicado às Oportunidades e Desafios da Transição Digital, Bernardo Sousa, da Portugal Digital, sublinhou a importância desta transição nas pessoas, vincando ser crucial “não deixar ninguém para trás” e todos poderem ter acesso a formação nestas novas competências que, no que toca às organizações, passam pela “automatização de processos, recolha e utilização de dados, customização de respostas e integração de sistemas, entre outros”. Ainda neste painel Carla Silva, da Universidade Atlântica, focou-se nos apoios à gestão, no emprego e inovação e no impacto na economia, defendendo que “a digitalização é fundamental” para todas estas dimensões.
No painel seguinte, dedicado às Oportunidades e Desafios da Transição Verde para a Economia Social, Joana Pinto Balsemão, vereadora da Câmara Municipal de Cascais, saudou a responsabilidade das organizações do 3º setor, que causam impactos nas suas operações, mas reagem e “tentam reduzir a sua pegada ecológica”. Por sua vez João Vasconcelos, do Instituto Politécnico de Leiria, alertou para o impacto das alterações climáticas, para o possível aumento das vulnerabilidades sociais e para os vários desafios relacionados com a saúde e com o clima.
O último painel do dia recaiu sobre as Boas Práticas que, na Rede Social de Cascais, estão já a ser implementadas no contexto desta transição verde e digital.
Sandra Afonso, do Centro Comunitário de Tires, que está já a usar painéis solares e viaturas elétricas, apresentou uma plataforma digital para os seniores que visa o entretenimento, a aprendizagem e a estimulação cognitiva.
Raquel Ribeiro, do Clube Gaivotas da Torre, partilhou os resultados que têm vindo a ser obtidos deste 2018 na substituição do papel por tablets, nos registos diários feitos no âmbito do programa de apoio alimentar às famílias carenciadas.
Por seu lado Rogério Fangueiro, do Centro Social e Paroquial de São Vicente de Alcabideche, adiantou que a sua instituição está já a usar dois novos recursos inovadores: A plataforma ChildDiary que permite melhorar nas escolas a comunicação, a avaliação e diversos custos, levando a uma maior transparência e satisfação entre pais e colaboradores;
O programa do 2º dia das Conferências começou com a apresentação de dois projetos inovadores. O “TIMES – trajetórias institucionais e modelo de empresa social em Portugal”, apresentado por Sílvia Ferreira, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e o Projeto SEFORIS, o maior questionário em painel do mundo em empresas sociais, apresentado por Liliana Ávila, da Universidade de Aveiro.
Antes do encerramento das Conferências, seguiu-se ainda o painel “À conversa com a Rede Social de Cascais”, que se debruçou sobre os fatores de sucesso das organizações e sobre os seus planos estratégicos.
Mafalda Morgado, da Fundação “O Século”, destacou a criação de negócios sociais que contribuem para a sustentabilidade financeira da sua entidade, uma gestão rigorosa e transparente que põe os colaboradores em primeiro lugar e a utilização de várias ferramentas de gestão, nomeadamente digitais, que têm vindo a agilizar vários processos. Referiu ainda a utilização de painéis solares e viaturas elétricas para uma maior sustentabilidade, o lançamento de várias campanhas e uma forte aposta no trabalho em parceria.
A importância dos parceiros no sucesso da instituição, há já 45 anos, foi também sublinhada por Rosa Neto, da Cercica, que apoia 2 mil pessoas. Esta entidade destaca ainda a formação profissional e os negócios sociais de construção e manutenção de jardins, que contribuem para a sustentabilidade financeira. Outro segredo do sucesso desta organização, que está a expandir a utilização de painéis solares, é a sua “grande equipa”.
Por seu lado Isabel Miguens, da Santa Casa Misericórdia de Cascais, referiu o carater inclusivo da sua organização que emprega 700 trabalhadores. O respeito por todos, a proximidade e uma grande exigência no trabalho desenvolvido, ajuda todos a acreditarem que “o projeto de alteração de um bairro vai acontecer”.
Já para Frederico Costa, da SEA – Agência de Empreendedores Sociais, o segredo do sucesso é “sair da caixa”. Este responsável contou que esta abordagem tem facilitado a ajuda que os seus 32 colaboradores dão a milhares de pessoas que, nas comunidades onde a SEA opera, procuram construir os seus negócios. A proximidade, uma boa gestão de informação, a celebração de protocolos a nível nacional e o trabalho em rede, foram outros aspetos destacados por Frederico Costa.
Por último Cristina de Botton, da Cozinha com Alma, sublinhou a importância para a sustentabilidade deste negócio social, já com mais de 10 anos, de uma definição clara da sua missão, da sua gestão profissional, do investimento na capacitação da equipa, que inclui pessoas com deficiência e de uma grande aposta na qualidade da comunicação e dos serviços prestados.
No encerramento destas Conferências foi exibido o filme da celebração dos 20 anos da Rede Social de Cascais: “20 anos a ligar pessoas”.