A transição digital não substitui as competências do cuidar mas pode melhorar de forma significativa os serviços prestados pelas organizações sociais. Esta é uma das principais conclusões da mesa-redonda promovida no âmbito do último plenário do CLAS, que juntou Filipe Almeida, Joaquim Pequicho, Rogério Fangueiro e Miguel Pinto Luz em torno das implicações que a transição digital vai ter no setor social.
No atual contexto de transformação digital em que muitas profissões vão ser substituídas por tecnologia que dispensa a intervenção humana, as funções que se sustentam nas relações pessoais e na empatia estão, na opinião de Filipe Almeida, Presidente da Portugal Inovação Social, nas que mais vão ser relevantes no futuro. “O pensamento prospectivo e estratégico, a capacidade de tomar decisões complexas é o núcleo de competências centrais da economia social “. A tecnologia ainda não é capaz de substituir a intervenção social das organizações sociais, mas “é um instrumento fundamental para melhorar como esta se processa”.
CMC disponível para apoiar transição
Miguel Pinto Luz, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Cascais e responsável pela área da inovação, alerta para a questão de que a transição digital só vai trazer benefícios se estiver alinhada com a missão da organização. O autarca manifestou a disponibilidade da CMC para prestar apoio às organizações que queiram apostar nesta transição. Considera que esta carece de uma avaliação prévia do investimento e do retorno, pois a transição digital só se justifica se gerar “processos mais eficazes e céleres e melhores serviços prestados.”
A adoção de tecnologias digitais para as organizações sociais é um fator fundamental para a modernização do setor, mas não é o único. Segundo Filipe Almeida, as organizações sociais enfrentam desafios cruciais para a sua adaptação a novas realidades, que passam pela melhoria dos processos de comunicação e avaliação de impacto, pela capacidade de inovação através de parcerias e colaborações estratégicas, e pela profissionalização da gestão.
Estes “espaços de mudança “ que as ferramentas tecnológicas proporcionam, colocam às organizações, nas palavras de Joaquim Pequicho, Diretor Executivo da Confecoop, o desafio acrescido de as utilizarem como um instrumento de correção de desigualdades. Não só é necessário dotar as organizações de meios e conhecimentos nesta área como há públicos mais frágeis e que não podem ficar excluídos deste processo, tais como “as pessoas com acessibilidade cognitiva comprometida ou pessoas mais idosas com níveis de literacia reduzidos”.
O futuro passa pela ação colaborativa
Um dos obstáculos à modernização digital das organizações sociais é a velocidade com que as soluções se desatualizam, aponta Miguel Pinto Luz, e a pouca oferta que existe no mercado, acrescenta Rogério Fangueiro, Presidente do Centro Social e Paroquial de São Vicente de Alcabideche. A resposta para enfrentar a falta de sensibilização dos fornecedores para o setor social pode estar na mobilização das organizações numa associação. Assim disporiam de uma posição conjunta para negociar soluções a um menor custo e com aplicação específica neste setor.
Miguel Pinto Luz esclarece que hoje em dia , a tendência é que pessoas com poucos ou nenhuns conhecimentos de informáticos possam criar e personalizar aplicações e automatizar tarefas de gestão com o recurso a ferramentas já disponíveis. A ideia é depender cada vez menos de soluções de software complexas , por natureza mais dispendiosas e que requerem também investimento de manutenção.
Digitalização por etapas e personalização da intervenção
O Centro Social Paroquial de São Vicente de Alcabideche está a implementar um plano de digitalização por etapas. Baseando-se na experiência da sua organização, Rogério Fangueiro recomenda que o uso das tecnologias nas organizações sociais tem que ser objeto de uma estratégia e de uma planificação. E defende que este fator está dependente da profissionalização das direções.
A existência de recursos limitados obriga a que haja uma identificação clara de quais os meios tecnológicos que vão simultaneamente, responder “às necessidades dos nossos utentes e que vão simplificar os processos do dia a dia, para pouparmos meios”.
O CSPSVA está neste momento na segunda fase de implementação do seu plano de digitalização e utiliza aplicações digitais específicas para gerir as respostas de creche/jardim de infância e de residência permanente para idosos. Estas soluções fazem com que “os planos de intervenção dos utentes estejam sempre atualizados e permitem um tratamento muito mais individualizado”, conclui.
Esta instituição prepara-se para muito em breve, utilizar uma solução tecnológica que monitoriza em tempo real alguns parâmetros de saúde de utentes idosos, inclusive os que se encontram em apoio domiciliário. Sem necessitar da intervenção do utente, vai ser possível vigiar a condição de saúde de pessoas idosas à distância.