O primeiro Centro de Recursos e Acolhimento para pessoas em situação de sem abrigo do concelho de Cascais, foi inaugurado no passado dia 7 de outubro. Trata-se de uma resposta permanente, destinada a 45 residentes que, nesta fase de pandemia, começará por acolher 29 utentes que vão beneficiar de alojamento, cuidados de saúde e higiene, apoio psicossocial e ainda de um plano de intervenção individualizado. A intervenção técnica dará uma especial atenção aos cuidados de saúde mental.
Segundo Frederico Pinho de Almeida, Vereador da Câmara Municipal de Cascais, “a abertura deste Centro vai permitir, por um lado, acolher as pessoas com dignidade o que, só por si, já justifica a sua abertura do equipamento. E por outro lado, vai permitir também trabalhar todas as componentes: psicológica, saúde e de capacitação para aceder ao mercado de trabalho, para que as pessoas consigam a sua autonomização”.
O projeto que foi financiado na totalidade pela autarquia, será gerido pela Cruz Vermelha Portuguesa. Conta ainda com uma rede de parceiros que terão um papel fundamental na reintegração social dos residentes.
O equipamento dispõe de um canil e gatil pois a possibilidade de acolhimento de animais de estimação pode ser um fator determinante para a adesão a esta nova resposta. Para os não residentes, estão disponíveis serviços de lavandaria e balneário.
Uma oportunidade para seguir em frente
N. já passou por dois Centros de Acolhimento Temporários (CAT), está há 3 semanas nas instalações da Fundação “O Século” e é com grande expectativa que vê a abertura deste novo equipamento: “Tinha que acontecer porque temos muita gente na rua a precisar de ajuda. Cada um com o seu erro ou com a sua patologia e que não pode ficar desamparado”.
Espera que com o ingresso no novo Centro de Recursos, possa concretizar o desejo de voltar a estudar, para ter a equivalência do 12º ano. Conta que durante o acolhimento temporário cimentou boas bases para saber o que quer fazer e afirma que, na transição para o Centro, é fundamental “que o apoio que tem existido não se perca” em especial “o carinho” que sentiu de toda a equipa.
Sabe que tem à sua espera e à espera dos restantes companheiros/as com quem partilhou o CAT nos últimos meses “um trabalho árduo”, de mudança pessoal, pois a permanência na rua por tempo prolongado deixa sequelas, por vezes difíceis de ultrapassar. Mas afirma: “Temos que seguir em frente e construir sobre aquilo que há”.
Para trás ficam a vida na rua que, com a chegada do Covid19, “foi muito difícil” e a estadia nos CAT que, segundo afirma, permitiu o “acesso a tratamentos que estávamos todos a precisar e que não estavam ao nosso alcance se estivéssemos ficado na rua, sem ninguém.”
Uma rede de suporte diversificado e em expansão
O novo Centro de Recursos surge na sequência do apoio especial que foi dado em Cascais às pessoas em situação de Sem Abrigo durante a atual pandemia e da avaliação positiva feita à intervenção desenvolvida, mais em permanência, neste contexto.
Em março de 2020, o município mobilizou a rede de parceiros que atuam nesta área para criar dois Centros de Acolhimento Temporário (CAT), utilizando as instalações de duas escolas do concelho. Num curto espaço de tempo, estando eminente um período de confinamento geral, foi possível preparar os espaços das escolas Fernando Lopes Graça (Parede) e Cidadela (Cascais) de forma a assegurar condições de alojamento, cuidados médicos e de higiene, a 74 pessoas que estavam a viver na rua.
Recorrendo ao conhecimento e experiência de intervenção que já existiam foram assim criadas duas estruturas, abertas 24 horas, que contaram com equipas de acompanhamento constituídas por 8 técnicos da autarquia com experiência de intervenção comunitária e por 3 técnicos de duas organizações que trabalham diariamente com população sem abrigo, o CASA e as Gaivotas da Torre.
O novo Centro de Recursos vem agora dar seguimento a este trabalho e ampliar o conjunto de respostas que estavam anteriormente disponíveis para apoiar as PSSA. Na opinião de Susana Gomes, técnica da equipa das Gaivotas da Torre, “pode significar o início de um percurso de maior sucesso para cada uma destas pessoas” que vem complementar outras respostas de carácter mais individual, como o Programa de Alojamento à Medida.
Também para Lúcia Lopes, do CASA, ” a existência de um espaço físico de referência vai permitir um trabalho de maior proximidade e atender às especificidades de cada pessoa, numa abordagem multidisciplinar e holística”
Voltar a ter cartão de cidadão, o ingresso em respostas terapêuticas ou o acesso a alojamento individualizado, foram algumas das conquistas tornadas possíveis pela permanência nos CAT, que se já se traduziram em alterações significativas nas vidas de 31 pessoas, ajudando-as a superar as condições de grande vulnerabilidade em que viviam.
Recorde-se que, atualmente, a intervenção que se faz no concelho de Cascais junto das pessoas em situação de sem abrigo é da responsabilidade do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA), uma plataforma de colaboração entre as organizações que atuam nesta área, que integra também a Câmara Municipal.